quarta-feira, 24 de agosto de 2011

DA MINHA JANELA - PARTE 2


Apenas mais um esboço da vida real. Apenas aqui, mais uma vez, sentada de frente para a minha antiga janela, numa breve pausa para observar a vida alheia.

A lógica ainda é a mesma. A minha percepção de que não importa aonde você esteja ou o que esteja fazendo, você sempre pode ser observado, talvez até julgado. Mas, esse, caro (a) leitor (a) não é meu objeto de escrita ou de pensamento.

A velha garrafa de Coca-Cola ainda está sobre a mesa do apartamento do primeiro andar. Não sei dizer se a menina sapeca ainda vai para a escola a tarde e se o senhor de camiseta azul passa horas e horas do seu dia em frente ao computador, mas agora existe um cachorro engraçado, que acredito que através do sofá, sai pela janela até a floreira para dar uma espiadela na rua.

O apartamento do segundo andar está vazio e nele, justamente, veio a vontade desse repeat singular. A senhora simpática que acordava por volta das 10:00h, que toda manhã abria a janela a minha esquerda por primeiro em sequência até a sua última janela, que sempre estava enrolada na sua toalha cinza e com o seu poodle capilar, onde estaria ela?

Teria ela partido dessa para uma melhor? O que existe por trás dessa janela da vida? Ninguém nunca voltou para nos contar a resposta.

Enquanto isso, pelo lado interno da janela da minha vida, ao olhar para aquelas duas pessoas sentadas no sofá da minha casa, pensei: "as pessoas que mais amo no mundo e que me amam tanto quanto".

Por hora, enquanto não sei o que há do lado de lá, fico a observar as minhas janelas particulares, singulares, extremas, intensas, íntimas.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

NÃO ERAM CLICHÊS, NEM CRENDICES

Não, definitivamente não era clichê, mas sempre fui assim, meio contra a qualquer coisa que fosse irracional (com exceção de Deus), como crendices, assombrações, entre outros.

Mas comecei a mudar de ideia de uns tempos para cá... Pode parecer estranho na verdade... Desde pequena achava loucura quando minha avó dizia:

- Não tome água na concha, que você vai ficar peituda”;

- Pentear o cabelo antes de dormir é desejar a morte da mãe”;

- Abrir o guarda-chuva dentro de casa (também) é desejar morte da mãe”.

Entre tantas outras ilustres crendices... De fato, não fazia nada que os mais experientes diziam que “era desejar a morte da mãe”, exceto que achava divertido fazer as outras “n” coisas, como tomar água na concha - acho que é por isso que sou peituda.

Então veio a adolescência e as paixonites. Não foi uma fase fácil. Deu pra chorar bastante, rir bastante, beijar muitas bocas diferentes, se sentir a menina-mulher-maravilha, se sentir a última das últimas. Enfim, momentos de altos e baixos, a era dos clichês.

-Ele não é o cara certo pra você, mas quando você menos esperar, o cara certo aparece”;

- Ele vai chegar. Para de procurar, quando você para, acontece”. E assim foi sucessivamente, inúmeras vezes.

Me apaixonei por pessoas erradas. Fiquei quase três anos em um relacionamento propriamente dito morto, cheio de dificuldades, de “hoje não posso, amanhã não dá”. Então toda vez que eu dizia desistir, aquela esperança ainda estava acesa lá dentro, iluminando aquela escuridão que estava o meu coração. A cada tentativa, uma lanterninha, dessa imensa chama, se apagava, como uvas que vão se desprendendo uma a uma do cacho.

Clichês, crendices, clichês, não é que eles estavam certos? Aconteceu quando parei de procurar.

segunda-feira, 28 de março de 2011

IN WONDERLAND

Sei que vai soar meio estranho. É estranho na verdade, pelo menos pra mim. Digo, não, corrijo, que na verdade é difícil, talvez seja até meio assustador, mas definitivamente não é estranho, é até bonito.

Mas é um dilema. Ou quase um. Confuso, não?!

Vamos direto ao fato. Estou quase chegando lá... Calma, mais um pouco, mexe assim, agora assim, um pouco mais pro lado, agora para o outro, e pronto, ajeitei meu sorriso meio sem graça. Estou aqui, parada, pensando, ajeitando meus botões em como lhe explicar isso, se é que “isso” tem explicação. Não sei se tem.

Quero que seja engraçado, divertido e quem sabe diferente. Uma maneira simples, de brincar com a curiosidade.

Mas você já deve estar cansado, pensando em por que de tanta enrolação. A, B, C... Vou citar o alfabeto inteiro, querendo escapar, mas não tem jeito...

Já coloquei Corinne Bayle Rae para ouvir, daqui a pouco vou colocar Mariah Carey, Madonna ou tantas outras para tentar escapar por entre aquelas entrelinhas que fogem ao meu estilo. Já sei, vamos tentar evitar complicações.

Queria ser assim, mais direta, mais simples, mas não sou. Deve ser coisa de signo, de zodíaco, de mãe Diná, de mandinga ou sei o que lá...

Você já deve saber, já deve imaginar o porquê de tanto blá blá blá...

Mas me sinto assim, como a Alice no país das Maravilhas, meio perdida, num lugar incrível, porém desconhecido, com seus mistérios, seus medos e seus personagens malucos e encantados. Quem sabe num lugar ao estilo “somewhere over the rainbow”, onde os sonhos que você sonha se tornam realidade, onde os problemas se derretam como balas de limão.

Que maluquice, mas ainda não consegui encontrar as palavras. E olhe quantas delas já surgiram por aqui...

Talvez como diz o Frejat: “tem dias que nada faz sentido e os sinais que me ligam ao mundo se desligam”. 

Mas é bonita essa coisa, esse misto de sentimentos que moram aqui dentro, que não sabem se dançam ou se flutuam à velocidade do vento.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

É MUITO MAIS DO QUE ISSO

Do passado não quero nada! Só guardo o conhecimento que adquiri e as boas lembranças de boas pessoas. Do presente quero só os presentes e do futuro, quero só o melhor! Porque a vida é muito mais que isso! A vida é um abraço apertado, uma gargalhada alta e sem hora de parar, viagens, saúde, paz, o suficiente em dinheiro pra realizar alguns sonhos, mas não mais do que isso para que eu não me esqueça das coisas simples da vida. A vida é o amor em estações, é a história que não escrevemos, mas são as escolhas que fazemos. A vida nasce e renasce todas as manhãs! E eu sou parte inverno, parte verão..metade outono, metade primavera! Eu sou o reflexo da natureza que há na vida..porque a vida só existe quando existe vida dentro de nós!

A VIDA É MUITO MAIS QUE ISSO!

Ame, apaixone-se, erre, erre quantas vezes forem necessárias. Sorria, brinque, chore, beije, morra de amor, sinta, sonhe, cante, grite, viva. O fim nem sempre é o final, a vida nem sempre é real, a roda nem sempre é gigante, o passado nem sempre passou, o presente nem sempre ficou, o hoje nem sempre é agora. O tempo... o tempo não pára!
 
Desconheço o autor.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

POR TRÁS DA VIDRAÇA

Cá entre nós: fui eu quem sonhou que você sonhou comigo? Ou teria sido o contrário?

Sonhei que você sonhava comigo. Mais tarde, talvez eu até ficasse confuso, sem saber ao certo se fui eu mesmo quem sonhou que você sonhava comigo, ou ao contrário, foi quem sabe você quem sonhou que eu sonhava com você. Não sei o que seria mais provável. Você sabe, nessa história de sonhos — falo o óbvio —, nunca há muita lógica nem coerência. Além disso, ainda que um de nós dois ou os dois tivéssemos realmente sonhado que um sonhava com o outro, também é pouco provável que falássemos sobre isso. Ou não? Sei que o que sei é que, sem nenhuma dúvida:

Sonhei que você sonhava comigo. Certo? Não, talvez não esteja nada certo. Também não era isso o que eu queria ou planejava dizer. Pelo menos, não desse jeito embaçado como uma vidraça durante a chuva. Por favor, apanhe aquele pequeno pedaço de feltro que fica sempre ali, ao lado dos discos. Agora limpe devagar a vidraça — quero dizer, o texto. Vá passando esse pedaço de feltro sobre o vidro, até ficar mais claro o que há por trás. Lago, edifício, montanha, outdoor, qualquer coisa. Certamente molhada, porque só quando chove as vidraças embaçam. Será? Não tenho certeza, mas o que quero dizer, disso estou certo, começa assim:

Sonhei que você sonhava comigo. Agora penso que é também provável que — se realmente fui mesmo eu a sonhar que você sonhou comigo; e não o contrário — eu não estivesse sonhando. Nada de sono, cama, olhos fechados. É possível que eu estivesse de olhos abertos no meio da rua, não na cama; durante o dia, não à noite — quando aconteceu isso que chamo de sonho. Embora saiba que — se foi dessa forma assim, digamos, consciente — então não seria correto chamá-la de sonho, essa imagem que aconteceu —, mas de imaginação ou invento até mesmo delírio, quem sabe alucinação. Mas não, não é isso o que quero contar, O que quero contar, sei muito bem e sem nenhuma hesitação, começa assim:

Sonhei que você sonhava comigo. Parece simples, mas me deixa inquieto. Cá entre nós, é um tanto atrevido supor a mim mesmo capaz de atravessar — mentalmente, dormindo ou acordado — todo esse espaço que nos separa e, de alguma forma que não compreendo, penetrar nessa região onde acontecem os seus sonhos para criar alguma situação onde, no fundo da sua mente, eu passasse a ter alguma espécie de existência. Não, não me atrevo. Então fico ainda mais confuso, porque também não sei se tudo isso não teria sido nem sonho, nem imaginação ou delírio, mas outra viagem chamada desejo. Verdade eu queria muito. Estou piorando as coisas, preciso ser mais claro. Começando de novo, quem sabe, começando agora:

Sonhei que você sonhava comigo. Depois que sonhei que você sonhava comigo, continuei sonhando que você acordava desse sonho de sonhar comigo — e era um sonho bonito, aquele —, está entendendo? Você acordava, eu não. Eu continuava sonhando, mas na continuação do meu sonho você tinha deixado de sonhar comigo. Você estava acordado, tentando adequar a imagem minha do sonho que você tinha acabado de sonhar à outra ou à soma de várias outras, que não sei se posso chamar de real, porque não foram sonhadas. Mas, se foi o contrário, então era eu, e não você, quem tentava essa adequação — nessa continuação de sonho em que ou eu ou você ou nós dois sonhamos um com o outro. Nos víamos? Quase consegui, agora. Preciso simplificar ainda mais, para começar de novo aqui:

Sonhei que você sonhava comigo. Depois, fiquei aflito. E quase certo de que isso não tinha acontecido. O que aconteceu, sim, é que foi você quem sonhou que eu sonhava com você. Mas não posso garantir nada. Sei que estou parado aqui, agora, pensando todas essas coisas. Como se estivesse — eu, não você — acordando um pouco assustado do bonito que foi ter tido aquele sonho em que você sonhava comigo. Tão breve. Mas tudo é muito longo, eu sei. Estou ficando cansativo? Cansado, também. Está bem, eu paro. Apanhe outra vez aquele pedaço de feltro: desembace, desembaço. Choveu demais, esfriou. Mas deve haver algum jeito exato de contar essa história que começa e não sei se termina ou continua assim:

Sonhei que você sonhava comigo. Ou foi o contrário? Seja como for, pouco importa: não me desperte, por favor, não te desperto.

Caio Fernando de Abreu