segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

EI, CARA!

Ei, cara! Qual é? Você não tem vergonha, não?! Se não tem, deveria ter!

Como você consegue agir assim? Às vezes tenho a impressão de que você se esqueceu de mim!

Três dias? Apenas três dias??? Como você pode fazer isso comigo? Pô, eu estou aqui há quase 22 anos e nesse inteirinho você me dá três dias? Não me parece justo...

Olha, eu tô falando sério... Me sinto cada vez mais cansada, cada vez mais frustrada... E estou pensando seriamente em pular fora... E quando eu te encontrar ai em cima, vamos ter que conversar sobre esses meus castigos que eu nem sei do que são...

Posso escolher meu tom de preto favorito? É. eu confesso que gostaria que naquele último momento,os outros estivessem de preto também, mas veja, eu sei que não será assim...

Entenda que eu sou muito grata por aqueles três dias, mas por que você me mostrou o paraíso se eu não poderia ficar nele? Isso não é certo, ainda mais porque viciei naquelas sensações tão doces... Você sabe que sou uma formiga ambulante...

Então cara, sabe o que acontece? Eu olho para os lados e não vejo outra saída... Pelo contrário, parece que só surgem pessoas que tem o mesmo objetivo para comigo: me deixar por baixo, lá em baixo, assim bem fundo... Ai você me dá um motivo pra sorrir, pra me deixar com aquela esperançazinha boba de que as coisas, dessa vez, serão diferentes... Mas nunca são...

E fica nessa sucessão, nesse vai e vem que nunca acaba... É um massacre, sabe? Aquela coisa que pula de um lado para o outro, tá querendo "largar os bets"...

Sabe qual é cara? Sabe o que tá pegando? A cada dia eu acredito menos em você.

sábado, 2 de janeiro de 2010

SMILE BOX

Guardada num armário em meio a tantas outras coisas lá estava ela: a caixa de sorrisos (Smile Box)...
Era possível ouvir as batidas do coração daquela menina de cabelos castanhos-claros-dourados enquanto se aproximava da caixa... Sua respiração era lenta e profunda... Com cuidado ela retirou a caixa e a colocou sobre o seu edredon branco com flores rosas e lilás delicadas.
Aquela não era uma caixa qualquer, ela continha pequenas alegrias que somadas contavam um pouco da sua história, seus amores, medos e situações divertidas... O seu valor era subitamente incalculavel.
Ao contrário da Caixa de Pandora, que continha os males do mundo, a Smile Box era cheia de magia e permitia àquela menina ganhar um pouco mais de vida e esperança.
Suas pequenas mãos, com unhas pintadas de um intenso rosa choque, quase não se continham quando abriu o primeiro envelope.
Um a um, Sophia foi abrindo e se deliciando em pequenas lembranças... Seus amigos contavam a sua história, perguntavam sua opinião acerca de suas dúvidas. E então ela teve certeza de que, apesar do pouco tempo de vida e de experiência, que ela havia desempenhado um papel importante na vida deles também...
Tantas lembranças, pessoas que ela já não se lembrava mais de seus rostos ou de seus nomes... Histórias que ficaram lançadas ao ar... Algumas até que já não faziam mais sentido devido ao tempo que ficaram pra trás, sentimentos não correspondidos...
"Oi... Eu estou bem, quer dizer, eu estava bem quando acordei até me questionar se o que havia acontecido no dia anterior foi um lindo sonho ou realidade, passei um bom tempo me questionando quanto a isso! Fiquei o dia inteiro com uma garota passeando em meus pensamentos... Não pensei que ela fosse fazer tanta falta! [...] Tem tantas coisas que eu queria te contar... Nem sei por onde começar, mas acho que essa frase já diz um pouco do que venho carregando comigo pra onde que que eu vá, afinal o que sinto não vem de agora e é muito mais forte do que eu... Amar é ter toda a água do oceano e só querer uma gota, é ter todas as estrelas do céu, mas olhar somente a uma, é ter a disposição todas as pessoas do mundo, mas desejar a uma só... Você" - Estou apaixonado por você Sophia".
Mas a Smile Box não falava apenas de amor, ela tinha seus momentos engraçados e que por mais que o tempo passasse, permitia que Sophia ainda tivesse gargalhadas com as paródias que ela escrevia para colegas de classe, como um que tinha as orelhas grandes... Então no meio da noite, e em ritmo de Pintinho Amarelinho, ela começou a cantarolar:
"A família camundongo cabe aqui na minha mão, na minha mão
Quando quer fazer caquinha, eles viram sua bundinha e soltam um peidão
Eles batem as orelhas, eles fazem rac-rac, mas tem muito medo é do seu gatão
Eles batem as orelhas, eles fazem rac-rac, mas tem muito medo é do seu gatão"
Sophia não era maldosa, mas não era santa... Era uma garota como outra qualquer... Que no meio dos seus anseios, tinha desejos e necessidades, histórias tristes e alegres...
A Caixa de Sorrisos também continha inúmeras cartas do seu avô que morava longe e do qual ela já não tinha mais notícias... Havia também os pequenos envelopes que vinham premiados de uma pequena quantidade de dinheiro, da sua avó falecida, que a parabenizava por cada vitória conquistada, fosse mais um aniversário, um natal, uma formatura...
Havia ainda as cartas de admiradores secretos... Havia cartas de pessoas que se diziam suas amigas... Havia um pouco de cada coisa... Havia até mesmo falsas verdades...
Mas independente do conteúdo de cada pedaço de papel, Sophia podia ter certeza de apenas duas coisas: que de alguma maneira ela contribuiu para pequenas felicidades alheias e que embora nem sempre os seus dias fossem de sol, eles não seriam para sempre nublados.