sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

POR TRÁS DA VIDRAÇA

Cá entre nós: fui eu quem sonhou que você sonhou comigo? Ou teria sido o contrário?

Sonhei que você sonhava comigo. Mais tarde, talvez eu até ficasse confuso, sem saber ao certo se fui eu mesmo quem sonhou que você sonhava comigo, ou ao contrário, foi quem sabe você quem sonhou que eu sonhava com você. Não sei o que seria mais provável. Você sabe, nessa história de sonhos — falo o óbvio —, nunca há muita lógica nem coerência. Além disso, ainda que um de nós dois ou os dois tivéssemos realmente sonhado que um sonhava com o outro, também é pouco provável que falássemos sobre isso. Ou não? Sei que o que sei é que, sem nenhuma dúvida:

Sonhei que você sonhava comigo. Certo? Não, talvez não esteja nada certo. Também não era isso o que eu queria ou planejava dizer. Pelo menos, não desse jeito embaçado como uma vidraça durante a chuva. Por favor, apanhe aquele pequeno pedaço de feltro que fica sempre ali, ao lado dos discos. Agora limpe devagar a vidraça — quero dizer, o texto. Vá passando esse pedaço de feltro sobre o vidro, até ficar mais claro o que há por trás. Lago, edifício, montanha, outdoor, qualquer coisa. Certamente molhada, porque só quando chove as vidraças embaçam. Será? Não tenho certeza, mas o que quero dizer, disso estou certo, começa assim:

Sonhei que você sonhava comigo. Agora penso que é também provável que — se realmente fui mesmo eu a sonhar que você sonhou comigo; e não o contrário — eu não estivesse sonhando. Nada de sono, cama, olhos fechados. É possível que eu estivesse de olhos abertos no meio da rua, não na cama; durante o dia, não à noite — quando aconteceu isso que chamo de sonho. Embora saiba que — se foi dessa forma assim, digamos, consciente — então não seria correto chamá-la de sonho, essa imagem que aconteceu —, mas de imaginação ou invento até mesmo delírio, quem sabe alucinação. Mas não, não é isso o que quero contar, O que quero contar, sei muito bem e sem nenhuma hesitação, começa assim:

Sonhei que você sonhava comigo. Parece simples, mas me deixa inquieto. Cá entre nós, é um tanto atrevido supor a mim mesmo capaz de atravessar — mentalmente, dormindo ou acordado — todo esse espaço que nos separa e, de alguma forma que não compreendo, penetrar nessa região onde acontecem os seus sonhos para criar alguma situação onde, no fundo da sua mente, eu passasse a ter alguma espécie de existência. Não, não me atrevo. Então fico ainda mais confuso, porque também não sei se tudo isso não teria sido nem sonho, nem imaginação ou delírio, mas outra viagem chamada desejo. Verdade eu queria muito. Estou piorando as coisas, preciso ser mais claro. Começando de novo, quem sabe, começando agora:

Sonhei que você sonhava comigo. Depois que sonhei que você sonhava comigo, continuei sonhando que você acordava desse sonho de sonhar comigo — e era um sonho bonito, aquele —, está entendendo? Você acordava, eu não. Eu continuava sonhando, mas na continuação do meu sonho você tinha deixado de sonhar comigo. Você estava acordado, tentando adequar a imagem minha do sonho que você tinha acabado de sonhar à outra ou à soma de várias outras, que não sei se posso chamar de real, porque não foram sonhadas. Mas, se foi o contrário, então era eu, e não você, quem tentava essa adequação — nessa continuação de sonho em que ou eu ou você ou nós dois sonhamos um com o outro. Nos víamos? Quase consegui, agora. Preciso simplificar ainda mais, para começar de novo aqui:

Sonhei que você sonhava comigo. Depois, fiquei aflito. E quase certo de que isso não tinha acontecido. O que aconteceu, sim, é que foi você quem sonhou que eu sonhava com você. Mas não posso garantir nada. Sei que estou parado aqui, agora, pensando todas essas coisas. Como se estivesse — eu, não você — acordando um pouco assustado do bonito que foi ter tido aquele sonho em que você sonhava comigo. Tão breve. Mas tudo é muito longo, eu sei. Estou ficando cansativo? Cansado, também. Está bem, eu paro. Apanhe outra vez aquele pedaço de feltro: desembace, desembaço. Choveu demais, esfriou. Mas deve haver algum jeito exato de contar essa história que começa e não sei se termina ou continua assim:

Sonhei que você sonhava comigo. Ou foi o contrário? Seja como for, pouco importa: não me desperte, por favor, não te desperto.

Caio Fernando de Abreu

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

PLATÔNICO

Platônico de Platão? De pensamento platônico ou dualístico? (ã?)... Que nó!

Amor platônico dizia na embalagem do bombom Serenata de Amor:


Só existe na imaginação de uma pessoa, e o outro nem desconfia que é amado. Se você está nessa situação, só temos uma coisa a dizer: não queríamos estar na sua pele”.
Até o bombom zomba de apaixonados de plantão. (Plantão, Platão, que coisa não?!).

Filosofia realista, teoria das idéias... O amor é algo quase sem explicação... Ai ai esse meu coração que sofre com essas rimas que terminam em “ão”.

Mas ele é lindo, por dentro e por fora... É uma combinação da mais perfeita perfeição...

Fechando a poesia, que não é poesia, nem poema, nem proza, só resta ter coragem, senhores apaixonados,  de abrir, de exaltar tamanha exclamação para o responsável por tanta adoração.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

DE MAUS RELACIONAMENTOS,

aprendi que:

Não preciso de alguém para ser feliz. Minha felicidade não depende de um companheiro ou namorado, ou seja lá qual for o termo que você queira utilizar;

Não devo ser egoísta comigo mesma, a ponto de abrir mão de mim em prol de alguém que não vale a pena; ou melhor:

Descobri que devo me amar primeiro;

Descobri que meu corpo é meu templo e que não devo deixar que o machuquem fisicamente ou emocionalmente - mesmo que seja mais difícil, e que devo me esforçar ao máximo para que isso não aconteça;

Aprendi que estar bem comigo mesma, faz toda a diferença!

Aprendi que estar ao lado das pessoas que amo, é a melhor coisa do mundo e que não preciso de alguém do meu lado que não esteja realmente “ai”;

Aprendi que quando as pessoas realmente querem, elas fazem!

Aprendi que ouvir que “gosto de você” é muito diferente de sentir que “gosto de você”;

E aprendi que o passado deve ficar no passado, para não estragar o presente.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

(im)PERFEITO

Parece que o mundo é dividido em dois tipos de pessoas: as que possuem a sorte grande de encontrar um amor (e ser correspondido) e as que vivem esperando por ele, na solidão...

Solidão – é meu amigo – ela me parece ser o novo mal da humanidade. Cansei de ler blogs por ai a fora onde esse sentimento medíocre preenche a vida de seus donos... E a minha pergunta é: o que há de errado?

Comédia romântica é o melhor combustível para alimentar esse mal, pois a realidade vem como uma onda, que lhe puxa e lhe suga para o fundo do poço. Elas são cruéis, mostram coisas que não existem, pessoas perfeitas, relacionamentos perfeitos, fórmulas mágicas e milagrosas. Elas alimentam sonhos e fantasias, mas são na verdade, um grande pesadelo.

Então, na vida real, me parece sempre aquela coisa de: João que ama Maria, que ama Rodrigo, que ama Débora, que ama João. E por que, algumas vezes, quando encontramos uma pessoa legal, o pouco que vocês tinham se perde? Talvez porque a essência de um não era suficiente para o outro? Falta de empatia? De reciprocidade? Claro que, contra a química não há argumentos... E se ela não funciona, não adianta tentar a física.

Descobri que relacionamentos perfeitos não existem. Não sei se acredito naquela coisa de “voltamos em outra vida para pagar pelos nossos erros” – se for assim, devo ter sido o Diabo numa encarnação passada. Mas eu também sou dura na queda... Ainda essa semana li em algum lugar que, quando a gente gosta do cara, ele é fofo. Se não gosta, é pegajoso. E modéstia à parte, de vez em quando me aparecem alguns doidos. E muitas vezes sou eu quem não os quero. Não sei o que acontece, mas é como se a coisa fosse “mecanizada” demais... Gosto de cumplicidade, o que é um laço difícil de se fazer/criar. Aliás, me interessar por alguém, ultimamente, é algo que quase não me acontece. Aparentemente, as pessoas mais interessantes são aquelas que são difíceis de se conseguir.

Se eu pudesse voltar no tempo, faria muita coisa diferente e não teria feito tantas outras (que me renderam grandes lições e lágrimas)... Mas ele passa, crescemos e novas responsabilidades são impostas, talvez para encontrar um sentido nisso tudo ou para, quem sabe, recomeçar.

terça-feira, 27 de julho de 2010

MEU NOME NÃO É MARLON!

Como ele descobriu meu nome não é difícil imaginar, mas como ele descobriu meu e-mail é uma boa pergunta, que ele nunca quis me responder.

Maio de 2006, primeiro semestre da faculdade, foi quando recebi o primeiro e-mail dele, dizendo que me achava uma garota bonita e interessante. Marlon estava no último período do curso, sendo um cara educado e talvez tímido, mas um pouco convencido quando me disse, ainda nesse primeiro contato, que achava que existia uma troca de olhares entre nós. Na sequência, ele me enviou uma foto, que além de estar um tanto longe, não dava para ver muito bem o rosto dele (consideremos que eu também sou míope).

Procurei prestar mais atenção pelos corredores até que um dia o vi... Passei a cumprimentá-lo com um “oi” meio singelo, sem graça... Com o tempo, me atrevi até a beijar o rosto dele.

Achava o Marlon um cara estranho, porque mesmo (agora), ele teimava em dizer que eu era uma garota metida. Ele, no mínimo, deveria ter sérios problemas de memorização ou de ego, afinal nós sempre conversávamos na faculdade e por MSN.

Ele era querido, bonito, forte e tinha um sorriso daqueles de tirar o fôlego. Todas as minhas amigas também o achavam um cara legal.

Certa vez (já no final do ano), ele me parou no corredor e me pediu o meu MSN. Minha cara foi de espanto, realmente fiquei um tanto indignada!

- “Mas Marlon, você tem meu MSN!”



- “Rafael! Meu nome é Rafael!”



- “Marlon Rafael?”



(ele me olha com aquela cara de “ta doida?”)



- “Rafael Marlon?”



- “Não!”



- “Então quem é o Marlon?” (Bruna com aquela cara de taxo)...


É caro (a) leitor (a), a vida tem dessas coisas... rs... Depois eu soube quem era o Marlon, porque ele estava fazendo dependência na faculdade... Com muita cara de pau, mandei um e-mail pra ele me desculpando e explicando a situação (já estávamos em dezembro)...

segunda-feira, 31 de maio de 2010

INJUSTO?

A idéia de algum dia ter que escolher entre um amor e meus amigos nunca me pareceu justa. Pensar nessa possibilidade, menor ainda.

Quando menos esperei me perguntaram: se você tivesse que escolher entre o seu amor e os seus amigos, quem você escolheria? Não pensei que a resposta viria tão rápida, tão veloz, tão forte e abrupta da maneira que foi.

E sem querer tive que escolher. Eles também.

Já dizia os olhos azuis que eu mais amo em todo o mundo: a vida é uma avenida de mão dupla, tudo o que vai, com certeza volta.

E se as minhas razões não lhe contentam, sinto muito, eu dei o melhor de mim e não recebi metade em troca.

sábado, 29 de maio de 2010

TOC TOC

Toc Toc... Meu aniversário está batendo à porta... Faltam poucas horas. Daqui a pouco vou sair, vou esbravejar, vou curtir. 

Não, minha saída não foi planejada, foi assim, um convite de última hora... Não será uma comemoração de aniversário, apenas mais uma balada... Balada vip... Com direito a estacionamento, acesso aos camarins, aos palcos e tudo mais o que quiser... Balada do momento, da moda.

Então que mais uma rodada se encerra nesse típico clima de outono de  um mês de maio frio e chuvoso... Daqui uns meses uma primavera linda, colorida e florida... Minha estação favorita... Minha nova potência de motor mal pode esperar por ela! 

quinta-feira, 29 de abril de 2010

DE BRUNA PARA BRUNA

"Sabe esse acidente que se deu com o avião da TAM? Ele me deixou assustada. Assustada no sentido de ver como a nossa vida é frágil e como a gente nunca sabe quando é o nosso último dia e como hoje ou amanhã possa ser a última vez que estamos saindo de casa, que estamos próximas das pessoas que amamos. E, eu fico pensando em quanta coisa nós deixamos para fazer depois, para falar depois... E em um segundo o seu destino muda e a sua vida acaba e você não fez; você não disse; você não aproveitou; você não curtiu o que a via poderia lhe oferecer de melhor; você não alegrou o dia de alguém. Mas mesmo sabendo que isso tudo pode acontecer daqui um minuto, por que o medo de fazer, de mudar é tão grande? Por que o orgulho nos impede? Por que existe tanta maldade? Por que insistimos, de certa forma, a continuar com as mãos atadas? Que medo é esse que nos aprisiona?"
18/07/2007


quarta-feira, 28 de abril de 2010

MEMÓRIAS

Já são quase 2.2... Outra hora era 1.3 e suas derivações. Não é raro eu estar assim tão “nostálgica”, mas não deixa de ser fato. Parece que foi ontem!

E então que certos lugares, certos cheiros sempre lhe remetem a alguma coisa.

Quando você é criança, não vê a hora de ser “gente grande”, de poder ir e vir para onde quiser... E você, conseqüentemente, acha que é bobeira quando os mais velhos falam “aproveita, porque essa é a melhor fase da sua vida, e ela passa rápido!”... E passa, como passa! Até uva passa! rss..

Ontem fui a um mercado que ficava perto da casa onde morei por muitos anos, e estar lá novamente foi como se eu mergulhasse num ínfimo das minhas mais doces memórias.

Eu estudava de manhã e durante as tardes passava no “Chalela” para comprar alguma coisa para comer. Sempre em dose dupla. Se era um pão pra mim, o outro era para a Laika, e por ai vai... Me lembrei das tardes em que a minha fiel companheira ficava assistindo sessão da tarde comigo, das minhas amigas, das risadas... De toda aquela atmosfera inebriante e gostosa... Das travessuras, das tardes na biblioteca, das idas furtivas ao centro da cidade, das molecagens”

Tantas coisas, tantas pessoas... Idéias perdidas, metas cumpridas e tanto mais... Passa rápido, rápido demais. Tudo acaba. Até jaboticaba...rss.

sábado, 3 de abril de 2010

EU QUERO

Eu quero um amor de verdade. Todo mundo quer. Quero aquele amor de doer a alma. O amor de "não consigo viver sem você". Um amor para a vida toda.

Como encontrar esse amor? Por onde ele anda? Será que é o cara que acabou de passar por mim no mercado?  Será que é o cara que trabalha comigo? Será que é algum fulano qualquer que cruzou comigo na rua? Quais são seus sonhos? Suas qualidades? Seus filmes favoritos? Quem é ele? Como se chama? O que faz? Como ele é? Aonde ele mora?

Minhas perguntas não caberiam aqui.
         

segunda-feira, 22 de março de 2010

UTOPIA

"Muitas vezes você faz algo que você quer que aconteça e por fim não acontece! Como acelerar um carro! Sabe quando você acelera e ele não vai?"
por V.N

Como seria poder voltar atrás e fazer as coisas diferentes? Como seria poder montar e desmontar o quebra-cabeça da vida? Quais surpresas nos estariam reservadas? Seria melhor? Seria pior? Como seria a realidade? A realidade de hoje seria uma utopia? Desejaríamos também saber como seria se fosse o contrário?

Acredito que a resposta da última pergunta é sim.

Não que eu lamente, mas eu gostaria sim de ter vivido certas coisas. Gostaria de ter me aproximado de algumas pessoas e não de outras. Não é arrependimento. É apenas uma vontade de saber como seria, de provar o gosto que poderia ter.

Responder uma mensagem. Resolver aceitar um convite pra sair. Mandar um sms com uma brincadeira boba. Se olhar no Orkut e simplesmente começar a conversar. Qualquer pequena coisa. Qualquer olhar, qualquer sorriso, é o suficiente pra se mudar uma história inteira (ou de construir uma nova).

Apenas querer e não fazer algo para acontecer, pode ser como tentar acelerar um carro (com o freio de mão puxado)... Sabe quando você acelera e ele não vai?

quinta-feira, 18 de março de 2010

FOGO

O palito foi riscado, mas apenas uma leve chama foi acesa. Não houve explosão, apenas um princípio de incêndio. Ela não conseguiu continuar. O impacto foi mais forte do que ela previra.

Não causou uma dor lastimante. Não foi blasé. Foi incomodo. Foi rápido, mas não passageiro.

Já dizia o poeta que amor é fogo que arde sem se ver, é ferida que dói e não se sente. É um contentamento descontente. É dor que desatina sem doer.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

EI, CARA!

Ei, cara! Qual é? Você não tem vergonha, não?! Se não tem, deveria ter!

Como você consegue agir assim? Às vezes tenho a impressão de que você se esqueceu de mim!

Três dias? Apenas três dias??? Como você pode fazer isso comigo? Pô, eu estou aqui há quase 22 anos e nesse inteirinho você me dá três dias? Não me parece justo...

Olha, eu tô falando sério... Me sinto cada vez mais cansada, cada vez mais frustrada... E estou pensando seriamente em pular fora... E quando eu te encontrar ai em cima, vamos ter que conversar sobre esses meus castigos que eu nem sei do que são...

Posso escolher meu tom de preto favorito? É. eu confesso que gostaria que naquele último momento,os outros estivessem de preto também, mas veja, eu sei que não será assim...

Entenda que eu sou muito grata por aqueles três dias, mas por que você me mostrou o paraíso se eu não poderia ficar nele? Isso não é certo, ainda mais porque viciei naquelas sensações tão doces... Você sabe que sou uma formiga ambulante...

Então cara, sabe o que acontece? Eu olho para os lados e não vejo outra saída... Pelo contrário, parece que só surgem pessoas que tem o mesmo objetivo para comigo: me deixar por baixo, lá em baixo, assim bem fundo... Ai você me dá um motivo pra sorrir, pra me deixar com aquela esperançazinha boba de que as coisas, dessa vez, serão diferentes... Mas nunca são...

E fica nessa sucessão, nesse vai e vem que nunca acaba... É um massacre, sabe? Aquela coisa que pula de um lado para o outro, tá querendo "largar os bets"...

Sabe qual é cara? Sabe o que tá pegando? A cada dia eu acredito menos em você.

sábado, 2 de janeiro de 2010

SMILE BOX

Guardada num armário em meio a tantas outras coisas lá estava ela: a caixa de sorrisos (Smile Box)...
Era possível ouvir as batidas do coração daquela menina de cabelos castanhos-claros-dourados enquanto se aproximava da caixa... Sua respiração era lenta e profunda... Com cuidado ela retirou a caixa e a colocou sobre o seu edredon branco com flores rosas e lilás delicadas.
Aquela não era uma caixa qualquer, ela continha pequenas alegrias que somadas contavam um pouco da sua história, seus amores, medos e situações divertidas... O seu valor era subitamente incalculavel.
Ao contrário da Caixa de Pandora, que continha os males do mundo, a Smile Box era cheia de magia e permitia àquela menina ganhar um pouco mais de vida e esperança.
Suas pequenas mãos, com unhas pintadas de um intenso rosa choque, quase não se continham quando abriu o primeiro envelope.
Um a um, Sophia foi abrindo e se deliciando em pequenas lembranças... Seus amigos contavam a sua história, perguntavam sua opinião acerca de suas dúvidas. E então ela teve certeza de que, apesar do pouco tempo de vida e de experiência, que ela havia desempenhado um papel importante na vida deles também...
Tantas lembranças, pessoas que ela já não se lembrava mais de seus rostos ou de seus nomes... Histórias que ficaram lançadas ao ar... Algumas até que já não faziam mais sentido devido ao tempo que ficaram pra trás, sentimentos não correspondidos...
"Oi... Eu estou bem, quer dizer, eu estava bem quando acordei até me questionar se o que havia acontecido no dia anterior foi um lindo sonho ou realidade, passei um bom tempo me questionando quanto a isso! Fiquei o dia inteiro com uma garota passeando em meus pensamentos... Não pensei que ela fosse fazer tanta falta! [...] Tem tantas coisas que eu queria te contar... Nem sei por onde começar, mas acho que essa frase já diz um pouco do que venho carregando comigo pra onde que que eu vá, afinal o que sinto não vem de agora e é muito mais forte do que eu... Amar é ter toda a água do oceano e só querer uma gota, é ter todas as estrelas do céu, mas olhar somente a uma, é ter a disposição todas as pessoas do mundo, mas desejar a uma só... Você" - Estou apaixonado por você Sophia".
Mas a Smile Box não falava apenas de amor, ela tinha seus momentos engraçados e que por mais que o tempo passasse, permitia que Sophia ainda tivesse gargalhadas com as paródias que ela escrevia para colegas de classe, como um que tinha as orelhas grandes... Então no meio da noite, e em ritmo de Pintinho Amarelinho, ela começou a cantarolar:
"A família camundongo cabe aqui na minha mão, na minha mão
Quando quer fazer caquinha, eles viram sua bundinha e soltam um peidão
Eles batem as orelhas, eles fazem rac-rac, mas tem muito medo é do seu gatão
Eles batem as orelhas, eles fazem rac-rac, mas tem muito medo é do seu gatão"
Sophia não era maldosa, mas não era santa... Era uma garota como outra qualquer... Que no meio dos seus anseios, tinha desejos e necessidades, histórias tristes e alegres...
A Caixa de Sorrisos também continha inúmeras cartas do seu avô que morava longe e do qual ela já não tinha mais notícias... Havia também os pequenos envelopes que vinham premiados de uma pequena quantidade de dinheiro, da sua avó falecida, que a parabenizava por cada vitória conquistada, fosse mais um aniversário, um natal, uma formatura...
Havia ainda as cartas de admiradores secretos... Havia cartas de pessoas que se diziam suas amigas... Havia um pouco de cada coisa... Havia até mesmo falsas verdades...
Mas independente do conteúdo de cada pedaço de papel, Sophia podia ter certeza de apenas duas coisas: que de alguma maneira ela contribuiu para pequenas felicidades alheias e que embora nem sempre os seus dias fossem de sol, eles não seriam para sempre nublados.